Iniciada há mais de dois anos, a 15ª edição do Prêmio Santander Universidade Solidária, realizada em parceria com o Santander e Programa UniSol, contribuiu para implementação e fortalecimento de diversas iniciativas Brasil a fora, dentre elas, uma bela história de empoderamento e empreendedorismo, no município de Atalaia (AL), com um grupo de mulheres moradoras da comunidade de Chã da Jaqueira.
O projeto, que consiste na confecção de produtos artesanais desenvolvidos a partir do beneficiamento de resíduos descartados na produção de bananas, foi submetido pelos professores e alunos do Centro Universitário CESMAC, em Alagoas, que perceberam na atividade a possibilidade de implementar um modelo de negócio que pudesse garantir um incremento de renda à comunidade. “Na época, não tínhamos garantia de que eles iriam assimilar a ideia, porém, a necessidade e a falta de oportunidades que permeia a região fez com que elas vissem nesse projeto uma esperança de sobrevivência”, conta a professora coordenadora do projeto, Hanah Maria Torres de Melo.
A iniciativa abraça uma demanda especifica da comunidade, composta por mulheres de pequenos agricultores, trabalhadores rurais em sua maioria nas lavouras de cana-de-açúcar, que enfrentam grandes dificuldades com relação à oferta de emprego. Além do viés econômico social, o projeto tem uma proposta ambientalmente sustentável, pois trabalha com produto encontrado em abundância na região, a fibra da bananeira, descartada naturalmente pela planta, sem agredir o meio ambiente.
Quando submeteram ao Prêmio, o trabalho acontecia ainda de forma muito incipiente, sem grandes perspectivas. A profª Hanah lembra que, até pelo fato dessa semente ter sido plantada por uma professora artesã, não havia ainda uma equipe constituída entre as comunitárias, ocorreu todo um processo de envolvimento que demandou uma intensa dedicação da comunidade, para se apropriar da atividade como um todo. “Sem o empenho e a confiança dos membros da comunidade, que abraçaram a ideia e nos permitiram se aproximar, nada aconteceria, mesmo com todo nosso esforço”, ressalta a profª Hanah.
Além de capacitação técnica, empresarial e logística, o projeto tinha como objetivo viabilizar a consolidação da associação para o grupo de mulheres, com toda infra-estrutura necessária para desempenharem suas atividades. “Essa troca com a comunidade, e também com os estudantes de outros cursos, foi muito relevante. Pude vivenciar experiências que não viveria dentro da faculdade, como a burocracia para conseguir a legalização da associação, por exemplo, eu cuidei de todo processo, esse é um conhecimento que eu adquiri na vivência do projeto”, conta a estudante recém formada em direito, Mayara Lira Canuto.
O grupo, que respaldado pela universidade, passou por diversas formações, se desenvolveu muito com relação ao design e a comercialização dos produtos, e vem realizando exposições em feiras, eventos e centros comerciais da região, além de visitas à comerciantes locais, com o intuito de firmar parcerias. Atualmente ostentam um catalogo com mais de 50 produtos de fibra da banana. “Eu, como estudante de arquitetura, fiquei incumbida de trazer ideias para as peças, porém, o design que elas desenvolviam nos surpreendiam muito, pela delicadeza, pela qualidade, e isso nos acrescentou demais, aprendemos muito nessa troca”, conta Ana Claudia Vassalo de Vasconscelos.
Esse desenvolvimento a que se referem refletiu não somente na vida profissional, mas também em suas relações familiares. No início, muitas vezes quando tinha encomenda, as mulheres deixavam de trabalhar porque os maridos não aceitavam, nem acreditavam que o negócio poderia vingar, preferiam que ficassem em casa, cuidando dos filhos. “Agora é diferente, não reclamam mais, passaram a acreditar no trabalho”, conta Leonilda Marcara do Santo, umas das mulheres da comunidade e destaca, “o projeto trouxe muito conhecimento para a gente, nossa comunidade é muito carente de oportunidades. Essa troca de experiência foi muito importante”, destaca.
Emocionada, a profª Hanah conta que trabalha com projetos de extensão universitária há algum tempo, porém, nessa parceria com o Santande e UniSol viveu uma experiência completamente diferente. “A metodologia proposta foi algo novo para mim, hoje eu vejo extensão de uma outra forma, a participação da comunidade é fundamental, não se faz extensão sem essa troca, e a gente se envolve de uma forma tão intensa, que termina percebendo que estamos ganhando até mais do que a comunidade”, conclui.